Galerias Amadeo de Souza-Cardoso

As galerias de exposições temporárias, que em 2011 se passaram a designar de galerias Amadeo de Souza-Cardoso, em homenagem à figura do pintor português que faleceu em Espinho em 25 de Outubro de 1918, possuem 1.100 metros quadrados de área expositiva e recebem exposições de diversas expressões artísticas, desde as artes plásticas, à fotografia, passando por mostras documentais, em especial relacionadas com a história local do concelho.

Amadeo em Espinho

"Duas palavras apenas para dizer-lhe que não me esqueço de si, que é você uma das raras criaturas de que todos os dias me lembro com saudade.”
Manuel Laranjeira, "Carta a Amadeo de Souza-Cardoso", Espinho 14 de Junho de 1907.


Em 1887, ano de nascimento de Amadeo de Souza-Cardoso, Espinho era uma das mais importantes praias no panorama balnear peninsular. O comboio, já em andamento desde 1864, transportava para Espinho vilegiaturistas provenientes de todos os distritos de Portugal e em grande maioria do Porto, onde se incluía a então vila de Amarante, e também da vizinha Espanha.

A família de José Emídio de Sousa Cardoso, um reconhecido produtor vinícola do concelho de Amarante, fez desta estância balnear um local privilegiado para o veraneio da família e adquiriu uma casa situada na Av. 8, n.º 66, perto da antiga Estação do caminho-de-ferro. Assim, no limiar do século XX, o jovem Amadeo vivia entre a casa de Manhufe e a praia de Espinho.

Por volta de 1904 começou a conviver com o médico e escritor Manuel Laranjeira, seu amigo e confidente até a sua morte em 1912 e que com ele "criou” uma verdadeira tertúlia cultural, que se encontrava na grande sala de visitas da estância balnear – o café Chinês. Destaco as figuras de Miguel de Unamuno, Ramiro Mourão, Eurico Pousada, António Carneiro, Teixeira de Pascoaes, Pedro Blanco, José Hierro, Teodoro Quilez, Martinez Sierra, Manuel Luís de Almeida e e Carlos Evaristo, este último, fotógrafo e autor de alguns dos retratos mais emblemáticos de Amadeo de Souza-Cardoso.

Verdadeiramente cosmopolita no Estio, a Praia de Espinho, a viver os seus melhores anos, abria-se à modernidade e foi precoce, ao tempo de Amadeo, em algumas práticas sociais e culturais. O cinema, os cafés-concerto e a batalha de flores, são três exemplos dessas novas sociabilidades, que atraiam a Espinho uma burguesia portuguesa, cultural e intelectualmente evoluída, que se misturava com uma culta elite espanhola, e que conviviam na praia, no chiado, nos cafés, cinemas, casinos, teatro, praça de touros e nas grandes festas da Assembleia Recreativa.

Fora deste buliço, que se espraiava por um território em quadrícula, também ele moderno e singular, estavam os chamados "concertos íntimos” do pianista Pedro Blanco, realizado para ele e para um grupo muito restrito de amigos, no qual com certeza se incluía Amadeo, numa autêntica atmosfera de arte, com Beethoven e outros compositores clássicos à mistura.

Mas foi sobretudo a convivência e a grande amizade com Laranjeira e a correspondência trocada entre ambos, que nos deixam perceber a importância cultural da passagem de Amadeo por esta afamada estância balnear, dos amigos que para aí iam veranear, alguns dos quais figuras importantes das letras e das artes em Portugal e Espanha, e desse Espinho nas palavras de Manuel Laranjeira "atulhado de forasteiros, de bruma pesada e parda, enervante e melancólico, mas ao mesmo tempo romântico e carinhoso” a quem se regressava sempre.


A Casa Branca de Amadeo, em Espinho, pintura de Carlos Zeller